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A ciência do esporte ainda tem uma enorme dívida com as mulheres – 22/09/2023 – Marina Izidro


Você sabia que fazer treinos de força e de resistência na primeira metade do ciclo menstrual pode resultar em ganho maior de massa muscular do que espalhar esses exercícios ao longo do mês? Ou que vestir um top próprio para corrida pode aumentar a performance em cerca de 5% em relação a usar um outro qualquer? Eu também não!

Descobri ao pesquisar mais sobre o recém-lançado livro “The Female Body Bible” (A Bíblia do Corpo Feminino, em tradução livre). Escrito pela ex-atleta da equipe britânica de remo Baz Moffat, pela PhD em fisiologia do exercício pela Universidade de Brunel Emma Ross e pela médica Bella Smith, mostra como ainda existe uma distância enorme entre o que a ciência do esporte e a medicina pesquisam sobre mulheres quando comparado aos homens. Há muitos exemplos recentes.

Antes da Copa do Mundo de futebol feminino, disputada em julho e em agosto na Austrália e na Nova Zelândia, a longa lista de lesões de ligamento anterior cruzado do joelho em jogadoras profissionais surpreendeu. Tirou do torneio nomes importantes da seleção feminina inglesa —como Beth Mead e Leah Williamson— e levantou o debate sobre a necessidade de mais estudos sobre o assunto. O livro menciona que mulheres têm seis vezes mais chances de ter esse tipo de lesão do que os homens. Ainda há muito a ser investigado sobre esse problema, assim como sobre gravidez, menopausa e menstruação.

Algumas atletas têm falado mais sobre esses assuntos, o que só ajuda o esporte a evoluir. No ano passado, Dina Asher-Smith chegou a ponto de ter que desistir da final dos 100m rasos no campeonato europeu de atletismo por causa de câimbras nas panturrilhas. A britânica atribuiu as dores a uma consequência do período menstrual e pediu mais pesquisas sobre como isso pode afetar o desempenho esportivo.

É fato que faltam estudos sobre a relação entre lesões e nossos hormônios. Aliás, sempre me pergunto como estaríamos como sociedade em relação a análises científicas e à legalização do aborto se homens menstruassem ou pudessem engravidar.

As autoras também apontam que, em 2020, apenas 6% de toda a pesquisa em ciência do esporte foi feita exclusivamente em mulheres. E há um complicador: como temos níveis hormonais diferentes ao longo do mês, fora quem usa contraceptivos, estudar o nosso corpo é mais complexo. Elas acreditam que mulheres, historicamente, se voluntariam menos para pesquisas porque o foco não tem sido nelas.

Há iniciativas que podem servir de inspiração para outras equipes e países. O time feminino do Chelsea, por exemplo, foi um dos primeiros da Women’s Super League –a primeira divisão do futebol feminino inglês– a monitorar o ciclo menstrual das jogadoras. As seleções femininas da Inglaterra e dos Estados Unidos também já adotaram essa prática.

A Copa do Mundo das mulheres foi um sucesso, levantou bandeiras importantes, colocou de vez o futebol feminino no mapa. O debate científico também precisa continuar. É impressionante o quão pouco sabemos sobre nosso próprio corpo; como muitas vezes seguimos recomendações que foram feitas para homens, mas que provavelmente não têm o mesmo efeito em nós e acabam sendo aplicadas do alto rendimento à nossa vida cotidiana.

Também é fundamental não ter vergonha de falar sobre assuntos que nos afetam diretamente, como nosso período menstrual. Assim vai ser mais fácil buscar soluções.


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